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domingo, 2 de novembro de 2014

[MINHA RESENHA] Cartas de Amor aos Mortos - Ava Dellaira

Cartas de Amor aos Mortos
Dellaira, Ava
Editora Seguinte, 2014



Cartas de Amor aos Mortos é um livro do gênero dramático e classificado como infanto-juvenil, apesar de ter um conceito e uma ideia maduros, podendo ser lido e apreciado por jovens e adultos de todas as idades. A obra foi escrita pela americana Ava Dellaira e foi o seu romance de estreia, muito bem criticado e recebido pelos leitores. Aqui no Brasil, foi lançada neste mesmo ano de 2014 e publicada pela Editora Seguinte. Cartas de Amor aos Mortos já se torna diferenciada, principalmente, por seu aspecto estético, já que a personagem principal se comunica com o leitor através de cartas escritas aos mortos, estes que são ídolos da garota, tais como Jim Morrison, Heath Ledger, Janis Joplin, Elizabeth Bishop, Kurt Cobain, Amy Winehouse, Judy Garland e outros vários astros de época. Para fazer relação à depressão existente na jovem e ao drama vivenciado por ela, um link entre a sua tragédia pessoal e as fatalidades dos famosos tornou-se estritamente necessário e importante, sendo traçadas intensas analogias entre os fatos e comparações sobre o que se passava na mente de todos que encontraram, na morte, a única saída para a libertação e para a paz.
Laurel sempre teve em May, sua irmã mais velha, seu porto seguro. Acreditava que ela fosse capaz de realizar coisas inimagináveis e que fosse o verdadeiro espelho da perfeição: bonita, inteligente, popular e querida por todos, Laurel só era capaz de ver qualidades e pontos positivos em May e nunca imaginaria que sua irmã seria capaz de desapontá-la. Quando crescer, queria ser igual a ela: segura. Laurel vivia à sombra da irmã; a queria em todos os cantos que fosse e nunca, mas nunca mesmo, queria sonhar em viver sem ela. Realmente não estava preparada e nem imaginava uma vida sem sua irmã mais velha. A garota não estava preparada para o que estava por acontecer e que mudaria totalmente sua vida.
Laurel estava começando a vida escolar em outro colégio. Decidida a fugir de todo o seu passado, mas desmotivada para seguir em frente, ela logo se esconde de todos e os evita por completo. Em um certo dia, sua professora passa um trabalho de classe para todos os alunos, consistindo em escrever uma carta para alguém que já morreu, com temas livres. Deste modo, Laurel começa a escrever para seus ídolos como um modo de desabafo, para que possa entender tudo o que está sentindo e tudo o que realmente está acontecendo em sua vida. Mas, principalmente, a garota escreve para superar a morte de sua irmã mais velha, há um ano, e que está completamente sem explicações na mente da jovem.
Durante o período escolar, ela logo torna as escritas das cartas um hábito e um diário e decide escrever sobre todas as suas experiências. Ainda descobrindo a adolescência e o universo das pessoas mas, desta vez, sem sua base (sua irmã), ela simplesmente não consegue superar e suas lembranças da morte de sua irmã são frequentes. Laurel, definitivamente, não consegue aceitar tudo que aconteceu e vive às sombras do seu passado. Mesmo fazendo poucas amizades e descobrindo o primeiro amor, ela não encontra forças para separar as coisas e faz com que as lembranças de May não a deixem seguir em frente.
Laurel deve aceitar a morte de sua irmã e viver sua própria vida, sabendo que não há como reparar o passado e trazer May de volta. Deverá ser capaz de tirar esse peso e essa culpa que acredita ter, que foi acentuada após a separação de seus pais, encontrando forças para ser ela mesma. Cartas de Amor aos Mortos é uma obra bastante sensível e bem escrita. Torna-se fragmentada pelas analogias referentes às fatalidades dos ídolos, já que Laurel sempre busca contar algo de sua vida relacionando com algo que houve na vida, por exemplo, de Amy Winehouse.
Uma sensação trazida pela música de Kurt Cobain; pela familiaridade e humildade de Heath Ledger; a estrada e atuação realizada por Judy Garland em O Mágico de Oz, tudo isso são ferramentas utilizadas por Ava para criar o diálogo entre a personagem e estabelecer conexões necessárias para que Laurel entenda a mente das pessoas e, principalmente, a sua e de sua irmã.
Pelo seu teor jovem e adolescente, temas como a descoberta da sexualidade, a influência de álcool e drogas, e as relações de amizade e família construídas são elementos construtores do enredo. Para aumentar o drama, é posto que os pais da personagem são separados, algo muito comum atualmente e que acredito que só nos aproxima da tragédia na vida de Laurel.
Cartas de Amor aos Mortos realmente é uma história madura de superação, que traz a importância da aceitação para que possamos seguir nossas vidas sem culpas e sem arrependimentos e que devemos viver às nossas sombras, mas nunca esquecendo cada um que passou pelo nosso passado e que, de um jeito ou de outro, foi construtor de nosso caráter e, principalmente, de nossas vidas.

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