[MINHA RESENHA] Coraline - Neil Gaiman

Coraline
Gaiman, Neil
Editora Rocco, 2003



Coraline é uma obra do gênero fantasia, classificada controversamente (opinião pessoal) como uma obra literária voltada para o publico infanto-juvenil e fazendo parte do selo Jovens Leitores, da Editora Rocco. Lançada, primeiramente, em 2002, pelo gênio da literatura fantástica e um dos maiores nomes da literatura internacional atual, Neil Gaiman (Sandman), chegou às terras brasileiras apenas um ano depois e logo tornou-se destaque nas maiores livrarias do país. 
Coraline, com o tempo, logo tornou-se referência mundial para os autores que decidiram seguir a mesma linha e ficou conhecida por ser uma história sucessora de Alice no País das Maravilhas, um clássico mundial.
O livro trata de uma sombria aventura vivida pela jovem Coraline, após ter descoberto uma misteriosa porta em seu quarto que a levava a uma realidade paralela e cheio de perigos que deveriam ser, no mínimo, assustadores. Com o sucesso que a obra adquiriu entre quase todos os públicos (sucesso semelhante ao Pequeno Príncipe, que viveu uma situação parecida, após também ser classificado como temática infanto-juvenil), o filme homônimo foi lançado, em 2009, pela grandíssima Focus Features. Deste modo, a popularidade da história de Coraline se expandiu em termos inimagináveis, rendendo uma aventura inesquecível para grande parte dos leitores e/ou telespectadores.
Coraline Jones tornou-se uma menina muito solitária após seus pais decidirem se mudar. Todos foram para uma estranha residência dividida em vários apartamentos e com um lindo jardim, sem contar a quadra de tênis quase esquecida. Não por isso o apartamento da família Jones seria um cubículo: Coraline sempre se ocupava com alguma coisa, já que não podia contar com os ocupados pais para se divertir. Filha única, encontrou na solidão um mundo de fantasias e sonhos, e em tudo procurava algum meio de se distrair.
Porém, nenhuma distração que a garota encontrava seria maior do que a portinha esquecida da casa, a portinha trancada que não levava a lugar algum. Uma porta que era bloqueada por uma parede de muros e que, todos supunham, desse de encontro a outro apartamento desocupado do imóvel. Por mais que não houvesse justificativas para o porquê de aquela porta estar ali, trancada e bloqueada, Coraline não resistiu ao seu instinto de exploradora e curiosidade, e logo não parava mais de pensar na tal portinha.
Decidida a investigar o sentido daquele portal, saiu à caçar pistas pela residência, e descobriu que, naquele local, moravam pessoas muito gentis e solicitas, apesar de estranhas: duas senhoras de idade, Sra. Spink e Forcible, que eram grandes artistas em um passado distante e que falam em enigmas, e o Sr. Bobo, um artista de circo que garante falar com ratos e diz estar os treinando para um show muito especial. Sem contar um misterioso gato preto, que faz companhia constantemente a Coraline Jones. Assim, as perguntas da garota vão sendo respondidas e ela percebe que um segredo enfadonho está contido através daquela porta. E, assim, começa a longa e terrível jornada de Coraline, quando, subitamente, após encontrar a chave para abrir o portal, ela repara que o tal muro já não mais o bloqueia, permitindo com que a travessia para um outro mundo seja completada.

Ao completar a travessia, Coraline chega a um destino estranho: um lugar exatamente idêntico a sua atual moradia. Os móveis, corredores, janelas, TUDO continua no mesmo lugar. Porém, é surpreendida ao perceber que seus pais também estão por lá, mas com uma aparência completamente diferente e com planos malignos que colocarão sua vida em um risco iminente e que deverá contar com uma extrema coragem para passar por cima de todos os desafios e jogos que seus parentes farsantes criaram. Coraline acaba contando com a ajuda do gato preto que, falante neste mundo, logo alerta a garota sobre os perigos e sobre a real identidade de seus outros pais: espíritos malignos que querem impedir a jovem de voltar ao seu próprio mundo e de ter seus reais parentes de volta.

Coraline é uma história maravilhosa e envolvente, com pouco nível de profundidade (talvez por isso seja mais voltada ao público infanto-juvenil), mas com um alto nível de tensão e de suspense. Através da fantasia, o mundo de uma solitária garota foi desenvolvido para criar vínculos com a infância de muitos de nós, que sempre reclamávamos de nossos pais, queríamos que outros nos criassem, e nunca percebíamos o quanto eles realmente fariam por nós e lutavam pelo nosso bem.
Coraline Jones é uma menina com uma personalidade comum à juventude. Gosta de brincar, de se divertir e de criar seu próprio mundo imaginário, principalmente na ausência de amigos reais. Ao passar pelo portal e se deparar com seus outros pais (referência à infância), ela logo recebe todo o agrado - comidas gostosas, brinquedos, carinho e atenção - deles, sem perceber que, na verdade, nada daquilo era real, o que acaba a confundindo e fazendo com que dúvidas fossem criadas.

Ela é a típica menina reclamona e brava, cheia de exigências e que se revolta com negações. Após ter tudo aceito e realizado ao encontrar os parecentes no outro mundo, por um instante, a realidade é esquecida e o desejo e o prazer de ter as coisas são realizados. Porém, Coraline, aos poucos e, principalmente, com as diferenças, começa a aceitar seus pais e a perceber que, apesar das restrições, eles são tudo na vida da garota, o que a motiva a enfrentar sua outra mãe e a bani-la, de vez, de sua vida.
A obra de Neil Gaiman se encaixa perfeitamente no horror leve, contradizendo as tendências jovens na qual foi classificada. Cheio de assombrações, fantasmas, lugares escuros e macabros e diálogos tensos, como a outra mãe querendo costurar botões no lugar dos olhos de Coraline, ou com o outro pai tornando-se um ser amorfo, uma mistura de tendências é nítida na fantasia e, talvez, a perfeição disso tenha sido a responsável por atrair um fiel público tão grande.
Neil Gaiman, com um vocabulário simples e inocente, já que a protagonista da história é uma criança e quem sofre os acontecimentos é a própria, buscou aproximar o livro de um público popular, sem palavras rebuscadas, frases de efeitos e clichês bobos e filosóficos (apesar de Neil Gaiman se distanciar anos-luz de clichês bobos e filosóficos).
Coraline é uma ótima história, apesar de curta, que é responsável por prender e, especialmente, entreter o leitor do começo ao fim. Sem modismos, diferente de muita coisa trash por aí que é considerado best-seller, a aventura da jovem Jones é inesquecível e fará o leitor ou telespectador acompanhar por várias e várias vezes a trama sem cansar e, principalmente, sem não se divertir.
Minha dica, para quem gostar de um ou de outro (filme ou livro), que acompanhe os dois, pois são diferentes e, apesar de ter um mesmo desfecho e de ter um mesmo plano central, várias coisas foram modificadas: personagens apareceram, cenários foram modificados, personagens transformados... Opinião bem pessoal mesmo, mas achei o filme bem mais completo que o livro (MILAGRE!!!). Tem quem ache, tem quem não... Mas eu achei. Mas acompanhem os dois, po. O filme deve ter nem 90 min e o livro tem nem 150 páginas, então é um pequeno esforço que, de um jeito ou de outro, será bem recompensado.