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domingo, 4 de janeiro de 2015

[A MÃO DO ESCRITOR] Um conto e uma poesia #09

E para a primeira postagem do ano, ano que já começou com MUITA chuva aqui nas terrinhas do Nordeste, nada mais justo que voltar com tudo para nossa seção de homenagens e de lembranças aos autores e escritores desse pequeno universo.
A seção tava quase que fechada, em quarentena mesmo. Meus fins de semana passaram a ficar quase lotados e, quando não estavam, eu passava o dia inteiro dormindo, porque, realmente, nesse ano de 2014 minhas semanas foram muito puxadas.
Mas enfim, agora é sossegar, aproveitar que o tempo tá mais disponível e organizado, e reativar tudo que tava esquecido por aqui, inclusive a frequência das postagens hehehe


E hoje, domingo dia 04 de Janeiro, uma homenagem a um dos meus escritores favoritos e, para mim, um dos mais importantes da história da literatura, o argelino naturalizado francês, Albert Camus, com o conto histórico-revolucionário sobre sua tão amada terra: Paris. Na poesia, teremos uma do inglês Thomas Stearns Eliot, considerado um dos maiores nomes da poesia mundial. Sua obra já foi considerada uma das mais importantes e A Terra Desolada, um dos textos poéticos mais importantes dos últimos anos.
Os dois morreram exatamente neste mesmo dia porém, em 1960 e 1965, respectivamente.
Confiram e espero que gostem. A poesia é linda demais, viu ;D




CONTO

SANGUE DA LIBERDADE


Paris faz fogo com todas as suas armas na noite de Agosto. Neste cenário imenso de pedras e de água, em volta desse rio cuja corrente vai cheia de história, voltaram a erguer-se as barricadas da liberdade. Uma vez mais a justiça tem de ser comprada com o sangue dos homens.
Conhecemos demasiado bem esse combate, a nossa carne e o nosso coração estão demasiado implicados nele, para que aceitemos sem amargura essa terrível condição. Mas também sabemos demasiado bem o que ele representa e qual é a sua verdade para que recusemos o árduo destino que, infelizmente, somos os únicos a suportar. 
O tempo será testemunha de que os homens de França não queriam matar e que entraram com as mãos limpas numa guerra que não escolheram. Foi preciso que tivessem imensas razões para que as suas mãos pegassem de repente em armas e atirassem sem parar durante a noite sobre esses soldados que, durante dois anos, julgaram que a guerra era fácil.
Com efeito, as suas razões são imensas. Elas possuem a dimensão da esperança e a profundidade da revolta. São as razões do futuro para um país que durante demasiado tempo quiseram que se mantivesse na ruminação fastidiosa do passado. Hoje Paris luta para que a França amanhã possa falar. Esta noite o povo pegou nas armas porque espera que amanhã haja uma justiça. Alguns dizem que não vale a pena, e que, com paciência, Paris será libertada sem demasiadas perdas. Mas dizem-no porque sentem confusamente a ameaça que representa a insurreição para uma quantidade de coisas que, de outra maneira, ficariam de pé. Pelo contrário, o que é preciso é que isto fique bem assente: ninguém pode pensar que uma liberdade conquistada com tanto sofrimento, terá os aspecto tranquilo e doméstico com que alguns sonham. Esse terrível nascimento é o nascimento de uma revolução.
Não é possível pensar que esses mesmos homens, que durante quatro anos lutaram no silêncio e durante dias inteiros sob o bombardeio do céu e das armas, permitam o regresso das forças de demissão e de injustiça, quaisquer que sejam os aspectos com que se revistam. Não se pode esperar que eles, que são os melhores, aceitem doravante fazer o que fizeram durante vinte e cinco anos os melhores e os mais puros, e que consistia em amar o país em silêncio e em desprezar, em silêncio, os chefes. Paris que luta esta noite quer mandar amanhã. Não luta pelo poder, mas pela justiça; não luta pela política, mas pela moral; não luta para dominar o país, mas pela sua grandeza.
A nossa convicção não é que isso se fara, mas que isso se está a fazer hoje, no sofrimento e na obstinação do combate. É por isso que, além da dor dos homens, apesar do sangue e da raiva, desses mortos insubstituíveis, dessas feridas injustas e da cegueira das balas, não são palavras de pesar, mas palavras de esperança terrível de homens a sós com o destino, que é preciso pronunciar.
Este gigantesco Paris, negro e quente, com duas tempestades, uma no céu e outra nas ruas, parece-nos, ao fim e ao cabo, mais luminoso do que a cidade-luz que nos invejava o mundo inteiro. Brilha com todas as luzes da esperança e da dor, tem a chama da coragem lúcida e todo o esplendor não só da libertação mas também da liberdade próxima.



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POESIA

A TERRA DESOLADA

Abril é o mais cruel dos meses, germina
Lilases da terra morta, mistura
Memória e desejo, aviva
Agônicas raízes com a chuva da primavera.
O inverno nos agasalhava, envolvendo
A terra em neve deslembrada, nutrindo
Com secos tubérculos o que ainda restava de vida.
O verão; nos surpreendeu, caindo do Starnbergersee
Com um aguaceiro. Paramos junto aos pórticos
E ao sol caminhamos pelas aleias de Hofgarten,
Tomamos café, e por uma hora conversamos.
Big gar keine Russin, stamm’ aus Litauen, echt deutsch.
Quando éramos crianças, na casa do arquiduque,
Meu primo, ele convidou-me a passear de trenó.
E eu tive medo. Disse-me ele, Maria,
Maria, agarra-te firme. E encosta abaixo deslizamos.
Nas montanhas, lá, onde livre te sentes.
Leio muito à noite, e viajo para o sul durante o inverno.
Que raízes são essas que se arraigam, que ramos se esgalham
Nessa imundície pedregosa? Filho do homem,
Não podes dizer, ou sequer estimas, porque apenas conheces
Um feixe de imagens fraturadas, batidas pelo sol,
E as árvores mortas já não mais te abrigam,
nem te consola o canto dos grilos,
E nenhum rumor de água a latejar na pedra seca. Apenas
Uma sombra medra sob esta rocha escarlate.
(Chega-te à sombra desta rocha escarlate),
E vou mostrar-te algo distinto
De tua sombra a caminhar atrás de ti quando amanhece
Ou de tua sombra vespertina ao teu encontro se elevando;
Vou revelar-te o que é o medo num punhado de pó. 


Espero que tenham gostado. Qualquer pedidos ou comentários, fique à vontade para dar sua palavra logo abaixo! 
Obrigado pela visita e um excelente ano!


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